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Curso de Filosofia                                                                                  Prof. George Artur

Maquiavel: uma visão realista da política

Nicolau Maquiavel (1469-1527)
        Maquiavel nasceu e viveu na cidade-Estado italiana de Florença em pleno renascimento, período que marcou na Europa a passagem da idade média para a idade moderna. A Itália encontrava-se dividida em centenas de principados e repúblicas. Não existia uma força governamental coesa e permanente. O poder que mudava de mãos rapidamente era mantido por meio de muita violência, astúcia e corrupção.  Indignado com as invasões estrangeiras, Maquiavel procurou influenciar os homens do poder na Itália por meio de seus escritos políticos. Ele pretendia convence-los de que era possível unificar a Itália e formar um Estado coeso e duradouro. Sua obra “O Príncipe”, onde expõe suas idéias para se formar e manter o poder num Estado, foi dedicada ao governante de Florença Lorenzo de Médicis (1449 -1492), contudo, as características marcantes de sua personagem ideal foram baseadas na experiência de vida de César Borgia (1475-1507), importante “condottiere” italiano.
       
As idéias políticas de Maquiavel foram muito importantes filosoficamente porque ajudaram a romper a visão tradicional e antiga da reflexão política que vinculava a política à ética. Para Maquiavel, o Estado não teria a função de assegurar a felicidade e a virtude humana, como propunha Aristóteles (384-322 aC). Com suas idéias, Maquiavel estabeleceu um distanciamento entre a prática política e a moral. Ele também substitui a visão idealista de Aristóteles (e de outros pensadores anteriores) sobre a sociedade e sobre o Estado por uma visão realista, baseada não no modo como a sociedade deveria ser, mas no modo como ela era concretamente.  
       
Semelhante a outros pensadores de sua época (renascimento), que procuravam seguir o modelo da nova ciência física, Maquiavel adotou o método de investigação empírica na história, comparando fatos do passado (greco-romano) com o presente. Sua preocupação era a de fundamentar as suas propostas em casos concretos, evitando, assim, qualquer tipo de afirmação idealista. Ele também propôs uma visão sobre a natureza humana radicalmente diferente daquela visão naturalista e positiva dos pensadores antigos. Para Maquiavel, o homem era movido por desejos e instintos mesquinhos, sendo na sua essência egoísta e ambicioso. Suas investigações históricas indicavam que os desejos e paixões dos homens seriam os mesmos em todas as cidades, povos e épocas. Conforme ele, os homens só evitariam fazer o mal se fossem coagidos pela força da Lei. Segundo ele, as principais bases sobre as quais um bom Estado poderia ser erguido eram: “boas leis e boas armas” (Princ., XII, p. 49).

Pensamentos:

Desejo de Poder
“O desejo de conquistar é coisa verdadeiramente natural e ordinária e os homens que podem fazê-lo serão sempre louvados e não censurados. Mas se não podem e querem fazê-lo de qualquer modo, é que estão em erro, e são merecedores de censura” (Princ., III, p. 14)

Objetivos dos homens
“Em relação aos caminhos que levam à finalidade que procuram, isto é, glória e riquezas, costumam os homens proceder de modos diversos; um com circunspecção, outro com impetuosidade, um com violência, outro pela astúcia, um com paciência, outro com a qualidade contrária, e cada um por estes diversos modos pode alcançar aqueles objetivos”  (Pricn., XXV, p. 104).

Natureza humana
“(...) Os homens são geralmente ingratos, vulneráveis, simuladores, coverdes e ambiciosos de dinheiro, e, enquanto lhes fizeres bem, todos estão contigo, oferecem-te sangue, bens, vida, filhos (...), desde que a necessidade esteja longe de ti. Mas, quando ela se avizinha, voltam-se para outra parte” (Princ., XVII, p. 70).

“(...) Os homens esquecem mais depressa a morte do pai do que a perda de seu patrimônio” (Princ., XVII, p. 70).

As bases de um Bom Governo
“(...) É necessário a um príncipe estabelecer sólidos fundamentos; sem isso, é certa a sua ruína. E as principais bases que os Estados têm, sejam novos, velhos ou mistos, são boas leis e boas armas” (Princ., XII, p. 49).

Orientar-se pelas experiências passadas
“Os homens trilham sempre estradas já percorridas. Um homem prudente deve assim escolher os caminhos já percorridos pelos grandes homens e imita-los; assim, mesmo que não seja possível seguir fielmente esse caminho, nem pela imitação alcançar totalmente as virtudes dos grandes, sempre se aproveita muita coisa” (Princ., VI, p. 23).

A sorte governa o mundo
“(...) as coisas do mundo são governadas pela fortuna e por Deus” (Princ., XXV, p. 103).
“(...) Penso poder ser verdade que a fortuna seja árbitra da metade de nossas ações, mas que, ainda assim, ela nos deixa governar quase a outra metade” (Princ., XXV, p. 103).
“Estou convencido de que é melhor ser impetuoso do que circunspecto, porque a sorte é mulher e, para dominá-la, é preciso bater-lhe e contrariá-la” (Princ., XXV, p. 105).
“A sorte, como mulher, é sempre amiga dos jovens, porque são menos circunspectos, mais ferozes e com maior audácia a dominam” (Princ., XXV, p. 105).

O Tempo tudo transforma
“(...) O tempo leva por diante todas as coisas, e pode mudar o bem em mal e transformar o mal em bem” (Princ., III, p.13)
Prever o futuro
“Da tísica [tuberculose] dizem os médicos que, a princípio, é fácil de curar e difícil de conhecer, mas com o correr dos tempos, se não foi reconhecida e medicada, torna-se fácil de conhecer e difícil de curar. Assim se dá com as coisas do Estado: conhecendo-se os males com antecedência, o que não é dado senão aos homens prudentes, rapidamente são curados: mas quando, por terem ignorado, se têm deixado aumentar, a ponto de serem conhecidos de todos, não haverá mais remédio àqueles males” (Princ., III, p. 12).



Bibliografia:
Nicolau Maquiavel; 4ª ed., São Paulo: Nova Cultural, 1987 (Os Pensadores).
Tudo começou com Maquiavel; 9ª ed., Luciano Gruppi, Porto Alegre: L&PM Editores, 1986.

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